Fuga à dor de pensar
Em primeiro lugar, enquanto Pessoa, busca incansavelmente e de forma lúcida uma saída que lhe permita aceder a um patamar de totalidade, fragmentando-se, então a abulia e o cansaço de uma consciência aguda abate-o, tendendo para uma anulação interior da qual não se liberta. Apesar de ter conhecimento da brevidade das coisas, em certos poemas refere a possibilidade de atingir uma certa felicidade. Tome-se como exemplo os poemas “Não sei se é sonho se realidade” e “Gato que brincas na rua”, no primeiro a ilha enquanto ideal é possível, já no segundo existe uma tentativa de entender o porquê da vida fácil do ser irracional por oposição ao racional.
Por outro lado, enquanto ortónimo, faz uma busca sem resultados, como Caeiro, seu mestre, encontra a verdade e a simplicidade da vida bucólica protagonizada pelas sensações objetivas da realidade imediata, afasta-se do conhecimento, rejeita-o sem querer obter respostas, desta maneira atingindo o que desejava. Também com Reis embora, baseado nas filosofias epicuristas e estoicas, aprende a desvalorizar o que não tem valor, pois ninguém foge ao seu rigoroso destino – a morte, tome-se como exemplo, para o primeiro poeta “saber ver sem estar a pensar” e para o segundo “aproveita o dia” (carpe diem).
Em suma, é possível ao poeta com o dom da despersonalização encontrar outro mundo dentro do seu, no entanto ao assumir-se como Campos encontrou muito de si e com este não lhe foi possível a fuga à dor.
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