Freud
Essa faceta da produção freudiana era vista, há não muito tempo, com reservas tanto por uma esquerda que se guiava exclusivamente pela dimensão econômica na análise do social, como pela direita, representada por alas do proprio movimento psicanalítico que advogavam (ou ainda advogam) que as descobertas de Freud sobre o inconsciente só podem ser aferidas no espaço privado da clínica e centrada na transferência desenvolvida naquelas circunstâncias. Para estes, o que não se enquadra nesse modelo é pejorativamente chamado de `análise aplicada' - algo que se olha de nariz torcido e com ar de desaprovação.
Como mostra Betty Fuks, nada mais distante do pensamento do próprio Freud, que rompe com a clássica distinção entre psicologias individual e coletiva por entender que o inconsciente, enquanto dimensão do psiquismo, necessariamente se evidencia em todas as organizações e fenômenos sociais humanos. Isto faz com que, no exercício de sua função, o analista possa e deva ocupar também o lugar de crítico da cultura.
Betty Fuks mostra como, para Freud, a cultura humana nasce do encontro entre “a interioridade de uma situação individual - manifesta nos impulsos que vêm desde dentro do sujeito - e a exterioridade de um código universal, subjascente aos processos de subjetivação e aos regulamentos das ações do sujeito com o outro†(p.10).
A importância do social, do outro, na constituição do sujeito aparece muito cedo em Freud. Já no “Projeto†(1895), postula o “complexo do próximo†como o responsável pela emergência da condição humana, que se instala ao estabelecer o recém-nascido seu primeiro