freud e a educação
M. Rodrigues Lapa
3. A Cantiga d’escárnio e Mal Dizer
No ponto de vista lingüístico, histórico-social e ainda literário, a cantiga d’escarnio e de mal dizer tem valor inapreciável.
É lamentável que ela constitui até hoje o capítulo menos estudado da poesia trovadoresca. Por duas razões, o fundo lexical, mais pitoresco e variado e muitas dessas composições contêm soezes obscenidades e dificilmente poderiam ser publicadas, por razões de decoro, muito discutíveis.Em 1904, D. Carolina Michaelis iniciou uma serie de investigações, com fim de esclarecer alguns passos mais difíceis dos Cancioneiros.A filóloga interpreta sobre tudo as cantigas satíricas, aluminando alguns pontos escuros com o confronto das fontes históricas. A romanista não duvidou um momento em sacrificar, por amor a ciência, o seu pudor de mulher, para descer à cloaca moral, que é tantas vezes o escárnio galego-português.
O serventes provençal e a graça portuguesa.
A cantiga escarninha toma na Provença, de um modo geral, o nome de sirventes em nada difere da canção. O tema era todavia diferente, tinha caráter mais objetivo.O gênero admitia três classes fundamentais, que representam outras tantas atitudes do trovador em face da vida: o serventês moral ou religioso , o político e o pessoal. Na primeira categoria entram as queixas sobre a decadência da cavalaria e a rudeza dos barões, as sátiras contra as mulheres e os ataques à corrupção e desmandos do clero. Na sátira religiosa está em primeiro lugar o formidável serventês de Guilhem Figueira.
O serventês político explora e comenta com veemência os sucessos do tempo, sobretudo a luta dos reis ingleses com os senhores feudais da França e a campanha militar e religiosa do norte contra o sul, a cruzada albigense. A primeira categoria de sucessos está documentada com apaixonado ardor na poesia de Bertran de Born. A campanha albigense revoltou quase todos os trovadores contra os cavaleiros franceses de Simão de