Frei gil, o defensor dos índios
Maria Virgínia Mattos
Corria o ano de 1903. O lugar era a vila de Santa Tereza da Imperatriz, no sul do Maranhão.
No último mês, pelo dia 9, a família de Maria Juliana e Clementino era enriquecida com mais uma criança, desta vez um menino. A família era “chegante”, fugira há pouco de Boa Vista do Tocantins, cidade assolada por lutas e discórdias. Já tinha outras crianças, Judith, Julieta. A família crescia.
Não se sabe se foi a mãe, ou o pai: alguém achou aquela criancinha tão doce, tão suave, quis colocar um nome adequado a essas características. Não pensou em Dulcídio, ou Dulcínio; escolheu Dulce, que significa exatamente “doce” em latim.
Um nome de mulher para o rapaz? Ora, quem disse que “Dulce” tem que ser nome de mulher? O casal tinha muita “opinião”, e o nome ficou mesmo Dulce: Dulce Gomes Leitão.
Por volta de 1906, estando o pequeno Dulce com apenas 2 anos de idade, a família acompanhou a onda do momento e mudou-se para o Burgo do Itacaiúnas, atraída pela exploração do caucho. A viagem foi certamente cansativa, num dos botes a remo que desciam de Imperatriz para aquele outro ponto do rio Tocantins. Foi essa a primeira das muitas viagens que o pequeno Dulce faria em sua vida...
Um irmão de Maria Juliana, chamado Atanásio, convidou Clementino para trabalhar num lugar denominado Independência, às margens do rio Itacaiúnas; aceito o convite, lá foi a família, novamente de barco, provavelmente uma pequena canoa, através dos meandros daquele caudaloso afluente do rio Tocantins. Independência era longe, próximo à foz do rio Parauapebas.
Maria Juliana ia, com certeza, preocupada com a saúde da família. As “febres” eram frequentes e violentas, além de tantos perigos existentes no isolamento da floresta. E Deus sabe que ela tinha razão! Depois de trabalhar algum tempo, eis que o chefe da família adoece e vem a falecer! Quanta angústia para essa mãe, que tristeza certamente invadiu o coração daquelas crianças, agora órfãs