Franz boas
Os pressupostos básicos da antropologia de Boas
Mais do que qualquer outro homem, Franz Boas, um alemão profundamente arraigado às tradições intelectuais de sua terra natal, definiu o “caráter nacional” da antropologia nos Estados Unidos. Discute-se se devemos falar de uma “escola” Boas (White 1966, p. 3-4), mas não há dúvida de que ele foi a força individual mais importante na formação da antropologia americana na primeira metade do século XX. Sua influência foi muito atenuada nas duas últimas décadas, mas continua viva, em alguns casos até no trabalho de antropólogos que não reconhecem nenhuma dívida para com ele. Assim, examinar mais de perto os pressupostos fundamentais da antropologia de Boas talvez sirva a outros objetivos além daqueles sempre presentes em uma biografia intelectual de um indivíduo. Pode também permitir uma investigação sistemática sobre a influência intelectual mais ampla de Boas. Pode nos dizer algo sobre o que diferencia a antropologia americana e outras tradições antropológicas nacionais. Pode lançar luz sobre certas antinomias epistemológicas duradouras que caracterizam a investigação antropológica em geral. Vamos começar com questões do debate que Boas travou em 1887 com Otis Mason e John Wesley Powell sobre “a ocorrência de invenções similares em áreas muito separadas” (cf. adiante, parte II, texto 7). Apesar de esse tema já ter sido discutido antes (Buettner-Janusch 1957), suas implicações não foram esgotadas. Não vou tentar esgotá-las nesta introdução, mas apenas enfatizar aquelas que me parecem fundamentais para a antropologia de Boas. Não pretendo insistir nas descontinuidades existentes entre a antropologia boasiana e a tradição evolucionista do século XIX, que a precedeu, e sim em questões da própria antropologia boasiana. Finalmente, o que afirmo sobre a antropologia pós-boasiana será breve e em certo sentido hipotético. Não tenho a pretensão de oferecer
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O S P R E S S U P O S TO S B Á S I C O S D A A N