FRANCO MONTORO
Eduardo Dullo
Doutorando – PPGAS/Museu Nacional/UFRJ
Do nominalismo à transcendência em uma antropologia política do PCC1
Até o ano de 2006, quando rebeliões ocorreram simultaneamente em diversos presídios e os atentados contra o “sistema” ganharam as ruas da cidade, o Primeiro Comando da Capital (PCC) era desconhecido para a maioria da população de São Paulo. Daquele acontecimento até o ano corrente, o nosso conhecimento ficou bastante limitado às informações divulgadas pela mídia e pelo Estado. O livro de Karina Biondi vem mudar este cenário.
Resultado de sua dissertação de mestrado no recentemente criado
PPGAS da Universidade Federal de São Carlos, o livro foi publicado pela coleção Antropologia Hoje. A escolha não poderia ser mais condizente com o título da coleção, pois é um livro integralmente comprometido com os recentes desenvolvimentos da antropologia praticada no
Brasil e é uma excelente porta de entrada para uma parcela do debate contemporâneo. A leitura que ofereço nesta resenha pretende, portanto, partir de algumas linhas de discussão teórica que estão presentes no texto; centralmente, discutirei a presença e/ou a preeminência de: 1. nominalismo, 2. etnografia e 3. internalismo (explicarei adiante o uso deste termo), e como sua conjunção impõe rigorosas condições às afirmações dos autores.
REVISTA DE ANTROPOLOGIA, SÃO P AULO, USP, 2011, V. 54 Nº 2.
O nominalismo é explicitado como referência na primeira citação feita pela autora, logo em sua Introdução (p. 33): um aforismo de
Nietzsche (influenciado pela filosofia de Leibniz) em que nos fala que
“todo conceito nasce por igualação do não-igual”. Sua questão deriva de sua aproximação teórica com algumas linhas antropológicas que se posicionam em direção contrária às existências de grupos com identidades definidas (pp. 52-55). Biondi nos mostra, desde o início do