Francisco Leal Fernandes Barbosa
Cinema Mundial II
Este trabalho tem por objetivo realizar uma resenha crítica da dissertação “O cinema de fluxo e a mise-en-scène”, escrita por Luiz Carlos Gonçalves de Oliveira Júnior. A dissertação trabalha dois conceitos cuja dificuldade de definição é acentuada por todas as páginas: a mise-en-scène e a estética de fluxo. Ambos os conceitos não são necessariamente opostos e ambos podem coexistir dentro do olhar individual do cineasta. Porém, a título de diferenciação e com o propósito de se abrir a discussão de forma mais pragmática, o primeiro conceito é inserido dentro de uma lógica platônica de se montar um plano, enquanto o segundo dentro de outra mais estoica. A mise-en-scène é um conceito emprestado do teatro comercial de grande espetáculo. Existiria alguém dentro da produção de conceito estético da cena que seria o metteur en scène. A ele estaria atribuída a tarefa de coordenar a ação. A essa tarefa, vê-se a necessidade da “concepção de elaboração do conjunto segundo uma meta – sempre a mais espetacular possível – a atingir”. A partir dos anos 50, nos Cahiers Du Cinéma, é dada à mise-en-scène uma nova definição, em que ela fará “uma condensação das principais atividades ao alcance de um realizador de filmes”. O cineasta de fluxo parte de uma crise no Cinema, supostamente deflagrada no início dos anos 60 e agravando-se nos 70 e 80. É a crise do maneirismo, advinda de uma hipertrofia da linguagem cinematográfica – o quadro e o discurso cênico. Cineastas como Jim Jarmusch e Lars Von Triers seriam uma geração de artistas maldita por chegar ao cenário tarde demais. Como exemplo, a dissertação cita a cena de diálogo no peepshow no filme Paris-Texas. Prejudicado por um excesso de consciência, Win Wenders precisa criar uma lógica cênica bastante complexa como desculpa para usar o velho “campo-contraplano”, um recurso aceito com bastante naturalidade no cinema clássico hollywoodiano. Uma válvula de escape entre a formalidade