Fracasso escolar: uma produção social
BISSOLI, Rafaela de Sá. Artigo. Universidade Federal do Espírito Santo, 2004.
A cada dia o uso da expressão “fracasso escolar” se populariza mais. As crianças ditas “fracassadas” têm se multiplicado em proporções gigantescas e, assim, vão chegando aos postos de saúde, às clínicas de psicologia, aos psicopedagogos e até mesmo aos conselhos tutelares. Mas será que todas essas crianças realmente são merecedoras do rótulo que lhes é atribuído? Essa é uma discussão muito séria. A produção do fracasso escolar é uma questão que está sendo hoje naturalizada, banalizada em nossa sociedade. É preciso pensar que ela envolve inúmeros pontos de vista e, de acordo com cada um deles, a história do fracasso escolar pode ser contada de uma maneira diferente. Como afirma Foucault (apud Machado, 1998) toda interpretação será sempre a interpretação de alguém; o princípio dela é o intérprete. Assim, naturalizar o fracasso escolar, banalizá-lo, incorre em um grande erro. Precisamos pensar em que condições, de que contexto ele emerge. Em primeiro lugar, não é possível se falar de fracasso escolar sem se falar da escola. É quase um consenso geral a idéia de que a escola é o lugar da futura ascensão social, onde, através dela (do estudo, do sacrifício, dos “diplomas”) qualquer um conseguirá um lugar no mercado de trabalho, um bom salário e uma redução da desigualdade. No entanto, pensar dessa forma significa tentar explicar as desigualdades sociais como fruto direto das desigualdades pessoais, e a ascensão pelo mérito pessoal. Assim, aqueles que não respondem a essa regra são vistos sob a ótica do fracasso. Para Machado (1998), é muito perigoso tornar natural aquilo que é historicamente construído. Ao longo dos séculos, milhares de explicações têm sido elaboradas para justificar o fracasso escolar. As teorias racistas enfatizavam diferenças naturais entre as raças, como se fosse natural que algumas tivessem uma