Formação geral
Minha mãe ia para o quarto chorar, nesses dias. Eu ia para a janela, cuspir na cabeça das pessoas que passavam e olhar para o letreiro luminoso de neon da loja em frente. Essa é uma luz que até hoje me atrai e que não foi ainda captada nem pelo cinema nem pela televisão. Quando meu pai voltava, bem mais tarde, o desespero da minha mãe havia passado e eu a via ir à cozinha preparar um copo de leite quente para ele. Um dia ele me disse que era uma pena que os homens tivessem de ser julgados como cavalos de corrida, pelo seu retrospecto. ―O problema do seu pai‖, minha mãe me disse certa ocasião, ―é que ele é muito bonito‖. Ela não o viu ficar paralítico, nem teve de suportar a tristeza incomensurável do olhar dele pensando nas sirigaitas. Sim, meu pai ainda era um homem bonito quando minha mãe morreu. A impiedosa lucidez com que eu agora pensava em meu pai encheu-me de horror — não podemos ver as pessoas que amamos como elas realmente são, impunemente. Pela primeira vez eu vira o pungente rosto dele,