Fonseca -Quando cada caso não é um caso
Quem escreve é Claudia Fonseca, professora de antropologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. De seu lugar de fala como antropóloga e pesquisadora, Fonseca propõe-se a discutir o método etnográfico, ou melhor, a apropriação desse método por profissionais de diversas áreas. A articulação do texto é dupla: primeiro, a autora esforça-se por mostrar equívocos no uso do método etnográfico; segundo, empenha-se em fornecer exemplos adequados do método, de modo que ele atenda ao propósito de, a partir de um contexto particular, chegar ao universal do ponto de vista sócio-histórico.
“Cada caso (não) é um caso” é a afirmação de que parte a autora para problematizar o recurso ao método etnográfico por pessoas que veem nele uma forma de fugir aos estereótipos e rejeitar preconceitos. No entanto, segundo ela, o entusiasmo com a etnografia não equivale simplesmente a afirmar a singularidade de cada caso, sendo necessária uma compreensão mais profunda da etnografia para que ela faça sentido. Para sustentar sua ideia, a autora aponta para engodos presentes em um “método etnográfico truncado”. Um deles é a falta de representatividade da amostra etnografada, em termos sociológicos. De fato, o método etnográfico costuma ser adotado em pesquisas com pequeno número de sujeitos, dado seu caráter qualitativo; porém, a autora alerta para o fato de que, para que se tirem conclusões relevantes, os sujeitos devem estar situados em um contexto histórico e social. É somente ao fazer o movimento interpretativo do caso particular desses sujeitos para o geral — a comunidade como um todo, a realidade social, etc. — que se cria um relato etnográfico. Do contrário, não se agregam conhecimentos relevantes ao debate acadêmico.
Outro equívoco refere-se à reflexividade. A