Folhetim
Folhetim
Chico Buarque de Hollanda
Se acaso me quiseres
Sou dessas mulheres
Que só dizem sim
Por uma coisa à toa
Uma noitada boa
Um cinema, um botequim
E, se tiveres renda
Aceito uma prenda
Qualquer coisa assim
Como uma pedra falsa
Um sonho de valsa
Ou um corte de cetim
E eu te farei as vontades
Direi meias verdades
Sempre à meia luz
E te farei, vaidoso, supor
Que é o maior e que me possuis
Mas na manhã seguinte
Não conta até vinte
Te afasta de mim
Pois já não vales nada
És página virada
Descartada do meu folhetim
A preferência pelos fonemas /s/ e /z/, nas duas primeiras estrofes, sugerem um sussurro ou um segredo em tom confessional, que caracteriza a proposta feita nos três primeiros versos da primeira estrofe.
O nome da música se chama Folhetim, não por acaso, é uma metáfora aos homens que o eu lírico passa seus dias. Folhetim é uma noticia que depois de um dia não vale mais nada, assim como um homem na visão do eu lírico que após uma noite não vale mais nada.
O texto pode ser divido em três movimentos.
O primeiro estabelece uma proposta marcada nos seguintes versos: "Se acaso me quiseres/Sou dessas mulheres".
O segundo movimento é caracterizado pelas trocas: "Se tiveres renda/Aceito uma prenda..." "Eu te farei as vontades/Direi meias verdades..."
O terceiro estabelece o fim do clima romântico e, consequentemente, a despedida: "Te afastas de mim/És página virada"