Florestan Fernandes e a falta de identidade do povo brasileiro
"Na Europa, os processos de desenvolvimento do pensamento, da economia e da sociedade podem ser interpretados como processos interdependentes. É visível a ligação do pensamento com a solução de problemas que se colocaram no plano da ação política ou da transformação econômica. No Brasil essa ligação não é perceptível com a mesma clareza, devido ao fato do saber racional utilizado não se ter constituído e desenvolvido como produto das exigências da situação histórico-social. Como ele era aceito pré-formado do mundo cultural europeu, a sua incorporação a sistemas de concepção do mundo vinculados à sociedade brasileira muitas vezes exigiu reelaborações de sentido paradoxal. Isso, porém, não significa que essa 'Intelligentsia' fosse desinteressada, em face da solução dos problemas que se levantavam na esfera da ação. Faltaram-lhe elementos que permitissem inserir suas atividades intelectuais em um processo cultural dotado de dinamismo próprio". (Fernandes, 1955a:181-182) “Finalmente seria possível perguntar se as características psicológicas atribuídas ao brasileiro têm alguma relação com a realidade. O número e a diversidade de tais características justificam a idéia de que não podemos imaginar sua correspondência com qualquer grupo brasileiro.” (Leite, 1992:268). “Se existe uma unidade em afirmamos que o Brasil é “distinto” dos outros países, o consenso está longe de se estabelecer quando nos aproximamos de uma possível definição do que viria a ser o nacional” (Ortiz, 1985:8). A falta de identidade do povo brasileiro data desde o Brasil colônia, quando os nativos tiveram sua cultura modificada pelos europeus. A partir daí, foi insinuado que o exterior possui o que é melhor, e isso é transmitido até os dias de hoje. A relação que podemos estabelecer com Fernandes é que a tentativa de estabelecer um modelo europeu no Brasil foi mal sucedida, uma vez que o país apenas o