floresta do alheamento
NA FLORESTA DO ALHEAMENTO
Jussara Bittencourt de Sá*
Resumo: O presente artigo delineia uma leitura do poema dramático Na Floresta do Alheamento
de Fernando Pessoa, privilegiando reflexões sobre sensações e razão, articuladas com a obra
Meditações de René Descartes.
Palavras-chave: Filosofia, estética, Fernando Pessoa, Descartes, poesia dramática.resumos
*
Professora do Curso de Letras e membro do Grupo de Pesquisa em Estética e Semiótica do Curso de Mestrado em Ciências da
Linguagem da Universidade do Sul de Santa Catarina. Doutoranda em Teoria Literária na Universidade Federal de Santa
Catarina.
Linguagem em (Dis)curso, Tubarão, v. 3, n. 2, p. 83-100, jan./jun. 2003
83
O ato de adentrar nas linhas das tramas que tecem a trajetória dos pensamentos filosóficos se configura sempre como algo instigante. Dentre os filósofos que marcaram a história do pensamento ocidental, este texto direciona seu foco a René Descartes, mais especificamente à sua obra Meditações. Publicada no século XVII, Meditações segue sistematicamente etapas que vão, aos poucos, desvelando suas indagações e seu desejo de chegar a verdades concretas.
Pontuada pela gradação de complexidades, sistematizada por uma cadeia de raciocínios, seguida pelo método da divisão de dificuldades, ordem e enumeração dos conhecimentos, Descartes inicia esta obra, apresentando, na
Meditação Primeira, a dúvida como um exercício do espírito. Na medida em que concebe um atrelamento entre corpo (que, durante o decorrer do texto, observamos considerar um objeto no espaço) e o espírito, Descartes afirma que o pensamento está preso a ele.
As reflexões sobre as idéias que emergem das Meditações cartesianas, instigam-me a tentar promover uma articulação com o texto dramático em verso
Na Floresta do Alheamento, de Fernando Pessoa, publicado na obra Poemas
Dramáticos, principalmente pelo pontuar de uma meditação metafísica sobre o ser, pelas seis indagações