Florbela Espanca
“Bendita seja a Mãe que te gerou.”
Bendito o leite que te fez crescer
Bendito o berço aonde te embalou
A tua ama, pra te adormecer!
Bendita essa canção que acalentou
Da tua vida o doce alvorecer ...
Bendita seja a Lua, que inundou
De luz, a Terra, só para te ver ...
Benditos sejam todos que te amarem,
As que em volta de ti ajoelharem
Numa grande paixão fervente e louca!
E se mais que eu, um dia, te quiser
Alguém, bendita seja essa Mulher,
Bendito seja o beijo
Tiago Luis
o dessa boca!!
Falo de Ti às Pedras das Estradas
Falo de ti às pedras das estradas,
E ao sol que e louro como o teu olhar,
Falo ao rio, que desdobra a faiscar,
Vestidos de princesas e de fadas;
Falo às gaivotas de asas desdobradas,
Lembrando lenços brancos a acenar,
E aos mastros que apunhalam o luar
Na solidão das noites consteladas;
Digo os anseios, os sonhos, os desejos
Donde a tua alma, tonta de vitória,
Levanta ao céu a torre dos meus beijos!
E os meus gritos de amor, cruzando o espaço,
Sobre os brocados fúlgidos da glória,
São astros que me tombam do regaço!
Diogo Cardozo
Se formos ver, no caso concreto de Florbela Espanca, o caminho que a retirou do anonimato, veremos que, quer através de Jorge de Sena, quer através de José Régio, quer através do pré – anunciado Américo Durão com o termo Soror Saudade – quer através de outros autores que iremos referir, se valer a pena, ao longo do texto – veremos, repetimos, que foi o facto de ser mulher e de ter uma escrita inscrivível no termo feminino que a trouxe aos poucos olhos da ribalta que lhe têm estado reservados.
Ainda hoje, as próprias teóricas da literatura que se têm debruçado sobre Florbela Espanca, fazem realçar este aspecto e fazem, inclusivamente dele, uma forma de superação feminista sobre o masculino extremamente interessante para questões de análise psicológica. Ora, o feminismo, nos seus alvores, foi essencialmente uma masculinização da mulher e não uma afirmação da sua identidade.