Florbela Espanca
Rasga esses versos que eu te fiz, amor!
Deita-os ao nada, ao pó, ao esquecimento,
Que a cinza os cubra, que os arraste o vento,
Que a tempestade os leve aonde for!
Rasga-os na mente, se os souberes de cor,
Que volte ao nada o nada de um momento!
Julguei-me grande pelo sentimento,
E pelo orgulho ainda sou maior!...
Tanto verso já disse o que eu sonhei!
Tantos penaram já o que eu penei!
Asas que passam, todo o mundo as sente...
Rasgas os meus versos... Pobre endoidecida!
Como se um grande amor cá nesta vida
Não fosse o mesmo amor de toda a gente!...
Florbela Espanca
Sobre a autora:
Florbela Espanca nasceu a 8 de dezembro de 1894, em Vila Viçosa;
Sua mãe era uma criada de servir – Antónia da Conceição Lobo e seu pai permaneceu incógnito no seu registo de nascimento;
Porém, João Maria Espanca, pai biológico de Florbela, assumiu a paternidade dezasseis anos após a morte da filha, em 1949;
Com o seu irmão Apeles Espanca, partilhou a cumplicidade de serem filhos de pai incógnito, frutos de um amor ilegítimo. A morte deste num desastre trouxe muita dor a Florbela;
Florbela morreu a 7 de dezembro de 1930,sendo o seu funeral no dia em que completaria 36 anos de idade. Muitos consideram suspeitas as circunstâncias da morte da poetisa, que nos seus escritos já havia confessado a admiração por quem se suicidava.
Em 1919, publicou Livro de Mágoas;
Em 1923, publicou Soror Saudade;
Em 1931, foi editado postumamente Charneca em flor, que foi reeditada nesse mesmo ano e aumentada com os sonetos Reliquiae, aos quais pertencem o soneto “Os meus versos”;
Vieram ainda dois livros de Contos e as suas Cartas.
Apesar do pouco que foi dito acerca da vida de Florbela, a sua biografia é bastante complexa, principalmente se tivermos em conta que o percurso biográfico da poetisa se confunde com a sua obra. Note-se nos