Flor do Deserto
“Ouvi a lâmina serrar minha pele, para frente e para trás. A dor é indescritível. Não me mexi, dizendo a mim mesma que quanto mais me mexesse, mais demoraria a tortura. Infelizmente, minhas pernas começaram a palpitar e tremer incontrolavelmente, e eu rezei ‘Por favor, Deus, faça com que acabe logo’. E logo acabou, porque eu desmaiei.” (Waris Dirie, Reader’s Digest, junho de 1999)
Waris Dirie tinha cinco anos de idade quando passou pela mutilação genital. Como ela, 150 milhões de mulheres convivem atualmente com as consequências da mutilação, e aproximadamente 6 mil meninas da África e Ásia passarão pelo procedimento ainda hoje (e muitas morrerão por choque, inflamação, tétano)- dois milhões ao ano. O que perpetua as práticas de mutilação são as crenças sociais de que uma menina que não passa pela “tradição” é suja e não deve ter um marido. Considerando que as meninas mutiladas são deixadas com uma abertura do tamanho da cabeça de um fósforo, mutilá-las faz com que tenham, com razão, pavor do ato sexual e se mantenham virgens até o casamento.
Waris elogiou o filme Flor do Deserto justamente por mostrar o sofrimento das mulheres árabes – “quero que todos assistam esse filme, eu sei que ele vai mudar a vida deles para sempre, para o bem, o bem maior”. Ela conta que teve medo de expôr sua história pela primeira vez [a uma jornalista, exatamente como no filme], mas que sentia que precisava fazê-lo para melhorar a situação das outras mulheres. Hoje ela tem uma fundação internacional para impedir a mutilação genital e dar apoio a meninas mutiladas.
Waris fugiu de casa aos 13 anos com ajuda da mãe, sozinha e descalça pelo deserto somali, sem sequer saber a direção da cidade. Ela conta que com fome, medo e pés sangrando, estava pronta para a morte, mas ao sobreviver a um encontro com um leão, decidiu que Deus tinha um plano para ela e, logo, deveria lutar para sobreviver. Na cidade, morou um tempo com a irmã e depois com a tia, sempre trabalhando para