Flor de Lis
Fernando Gabeira foi, além de escritor, jornalista de alguns semanários e do Jornal do Brasil, candidato pelo Partido Verde à presidência da República, em 1989 (na primeira eleição direta pós regime militar) e Deputado Federal pelo PT, em 2002; hoje, encontra-se sem partido e ainda se questiona sobre as razões que o mobilizaram, após o Golpe de 64, a empenhar uma luta quase impossível diante de uma mudança confusa e frustrante.
A narrativa vem dividida em vários capítulos, mas tem duas partes bem significativas; delas, apenas a segunda é retratada no filme a que assistimos. Cabe, portanto, analisarmos cada etapa, compreendendo a intenção de Gabeira ao reconstruir suas experiências de luta estudantil e de militância política, na defesa de um regime democrático, a partir de 64, até o exílio.
Segundo o ponto de vista do narrador, as esquerdas nacionais (ora representadas pelo PTB, ora pelo PCB) não estavam preparadas para a instauração da Ditadura Militar e as mudanças advindas desse novo regime governamental; assim desestruturados, os partidos de esquerda não tiveram condições de se opor à nova ordem instituída, menos ainda de representar resistência ao Golpe. Surgem, a partir daí, inúmeras descrições de situações nas quais Gabeira descreve o cenário nacional e aponta para a falta de perspectiva – não apenas dele, mas de todos os companheiros – diante da mudança; no desejo de colaborar, participa, clandestinamente, da feitura e distribuição de panfletos que pregavam o fim da contenção salarial e o princípio de uma organização independente de classe; esses folhetos eram entregues aos funcionários das fábricas, que constituíam o proletariado nacional.
Após essas reflexões de ordem pessoal, o autor passa a retratar algumas situações conflitivas de grupos da esquerda com o regime militar. Dentre elas, há o relato sobre uma pergunta inconveniente que teria feito a um Ministro Brasileiro, numa viagem a Portugal,