Fisica
OS PROCESSOS DE GALILEU: INTRIGAS, INTOLERÂNCIA E
HUMILHAÇÕES1
Amílcar Baiardi2
INTRODUÇÃO
No findar do segundo milênio da era cristã, a Igreja católica vem procurando em alguns campos como o da ciência se situar à altura do seu tempo, assumindo uma atitude de autocrítica. A maior prova deste posicionamento foi o reconhecimento pela Pontifícia
Academia de Ciências do Vaticano, do evolucionismo darwiniano.
Com esta tomada de posição, a Igreja católica vem, um tanto tardiamente há que se reconhecer, seguindo o conselho de Galileu Galilei, de separar os dogmas de fé das questões científicas. Galileu, que além de extraordinário homem de ciência foi, segundo palavras do Papa Vojtyla, um católico fervoroso e convicto, recomendou, quando do início do seu primeiro processo em 1616, a separação das evidências empíricas das interpretações das sagradas escrituras. Na ocasião afirmou que se é verdade que a Bíblia não pode errar, o mesmo não se pode dizer de seus intérpretes. Com esta observação,
Galileu chamou a atenção para a necessidade de proceder a separação entre o mundo da ciência e o mundo da fé, sob pena dos pesquisadores ficarem tolhidos da possibilidade de realizar investigações sobre temas mencionados de algum modo pelo Velho e pelo
Novo Testamento. Esta posição conciliadora de Galileu, se então aceita, teria evitado os processos e levado àquilo que Feldhay (1995) sugere ter acontecido, mais que uma perseguição seguida de condenação, um diálogo. Para Blackwell (1999), contudo, houve perseguição seguida de condenação, o que poderia ser evitado se os preceitos de
Santo Agostinho de não se interpretar literalmente as sagradas escrituras e datado do século quinto, fossem seguidos. Para este autor não se pode afirmar que sempre ciência e religião estiveram em conflito.
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Este texto tem co-autoria de Alex Vieira dos Santos, mestre e doutorando em Ensino, Filosofia e
História das Ciências –UFBA/UEFS.
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Professor Titular, DSc, da UFRB e da UFBA, Programa de