Fisica
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A filosofia de Platão e o debate bioético sobre o fim da vida: interseções no campo da Saúde Pública Plato’s philosophy and the bioethical debate on the end of life: intersections in Public Health
Rodrigo Siqueira-Batista 1,2,3 Fermin Roland Schramm 2,4
Abstract
1 Núcleo de Estudos em Filosofia e Saúde, Fundação Educacional Serra dos Órgãos, Teresópolis, Brasil. 2 Departamento de Ciências Sociais, Escola Nacional de Saúde Pública, Fundação Oswaldo Cruz, Rio de Janeiro, Brasil. 3 Comissão de Bioética, Hospital Universitário Clementino Fraga Filho, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, Brasil. 4 Instituto Nacional do Câncer, (INCA), Ministério da Saúde – Brasil. Correspondência Rodrigo Siqueira-Batista Av. Alberto Torres 111, Teresópolis, RJ 25964-000, Brasil. anaximandro@hotmail.com
Introdução
A morte é um dos mais genuínos problemas da condição humana, tendo demandado esforços para o seu equacionamento ao longo da História do pensamento ocidental 1. Ainda antes do nascimento da filosofia – ocorrido por volta do século VI a.C. – já podiam ser percebidos matizes relativos à finitude, como o referido em versos da Ilíada e da Odisséia 2,3. Um mote tão arcaico foi capaz de perpassar a cultura no Ocidente, influenciando decisivamente suas mais díspares faces, como o mito, a filosofia, a ciência e a arte 4. Do ponto de vista filosófico, diferentes autores trataram do significado da morte: pensadores como Michel de Montaigne – para o qual filosofar é aprender a morrer 5 – e Martin Heidegger – que viu no homem mortal aquele que é capaz de olhar em direção ao divino 6 – afirmam a finitude como instância inalienável à dimensão humana; por outro lado, filósofos como Baruch Spinosa – o qual, em sua Ética, veda à filosofia a possibilidade de uma vocação para pensar no passamento 7 – e G. W. F. Hegel que, em sua Fenomenologia do Espírito 8, articula um poderoso discurso com vistas à superação da morte, negam a primazia da