Finitude, plenitude
“Chego a meu centro, a minha álgebra e minha chave, a meu espelho.
Breve saberei quem sou”.
Assim se refere Jorge Luis Borges, em seu poema Elogio da Sombra, à velhice e à morte que percebe iminente. Apenas após a vida inteira cumprida – após a morte – é que se define aquilo que um homem foi: a sua essência. Mesmo depois disso, podemos supor, tal essência pode ser contestada. Imaginemos a hipótese absurda de que Borges não tenha de fato escrito seus poemas, e sim os roubado do eterno rival Oliverio Girondo: já não teremos o grande poeta, o maior escritor argentino; teremos um impostor. O que Borges diz de forma poética, Sartre afirma na linguagem da filosofia: a existência precede a essência. Ou seja, o que somos não nos é dado de antemão, por uma essência imutável ou por uma alma eterna, que nos antecede e sobrevive a nós. Não somos essencialmente bons ou maus, felizes ou infelizes, corajosos ou covardes: nos constituímos assim, pelas nossas escolhas, ao longo da existência. Dizer o contrário, que uma essência ou uma natureza determinam o que somos, seria negar a liberdade do homem. E, para Sartre, não temos liberdade, somos liberdade.
Tais ideias, nascidas da perda de influência do cristianismo sobre o pensamento ocidental – em 1882, Nietsche já havia anunciado a “morte de Deus” – têm profundo impacto na maneira de nos relacionarmos com a velhice e com a morte, com a nossa finitude. Nada de nós nos precede ou sobrevive a nós: somos lançados à existência, sem antes ou depois. Existimos no tempo, e o tempo de cada um é finito. A despeito das crenças individuais e das novas formas de religiosidade surgidas nos últimos 100 anos, nenhuma fé coletiva sustenta nossa vida, muito menos nossa morte. Ao mesmo tempo, a ciência nos presenteia com mais anos de vida; na verdade, com mais anos de velhice, já que os esforços para prolongar a juventude até agora foram malogrados. Diante disso, o que significa envelhecer? Como viver os anos que nos