Filosofia
Tempo Social; Rev. Sociol. USP, S. Paulo, 7(1-2): 53-66, outubro de 1995.
F O U C A U LT
UM PENSAMENTO DESCONCERTANTE
Foucault e a noção de acontecimento
IRENE DE ARRUDA RIBEIRO CARDOSO
RESUMO: A partir das últimas obras de Foucault, procuro analisar a importância do seu trabalho sobre uma história do pensamento, em que a noção de acontecimento é central. Articulada às noções de atualidade e de problematização constitui o modo como Foucault tematizará o que chama de uma ontologia do presente. A partir de Kant caracteriza o ethos filosófico da crítica do presente, inserindose, de uma maneira específica, nesta tradição. Definindo a problematização da atualidade como uma reativação da questão da Aufklärung , faz desta um acontecimento que nos questiona, enquanto possibilidade de constituição de nós mesmos, como sujeitos autônomos. A interrogação sobre os limites do presente e a possibilidade de sua transgressão instaura um campo problemático do pensamento, na tematização das questões da autonomia e da liberdade. É a partir desse campo que formula a sua interrogação sobre os gregos da Grécia clássica, a questão da ética, como um tipo de relação que determina como o indivíduo se constitui como sujeito moral de suas próprias ações.
UNITERMOS: acontecimento, história, atualidade, problematização, presente, liberdade.
P
rocurarei, a partir da análise das últimas obras de Foucault “O que é o Iluminismo” (Foucault, 1984c; 1988) e História da Sexualida de II - O Uso dos Prazeres (Foucault, 1984a ), destacar o que ele chama de sua escolha filosófica de um pensamento crítico que toma a forma de uma ontologia da atualidade. Referindo-se ao que considera as duas grandes tradições críticas fundadas por Kant, a de uma “filosofia crítica que se apresentará como uma filosofia analítica da verdade em geral” e a de “um