Filosofia moderna
A Educação da Consciência
INTRODUÇÃO [1] Observando o fenómeno humano notamos imediatamente que ele se nos apresenta como um corpo que se define pelas coordenadas de espaço e tempo. O homem é de facto um corpo. Ele vive num meio material que o condiciona e que determina todas as suas manifestações. Inicialmente este carácter de dependência do homem verifica-se em relação à natureza, entendendo esta como aquilo que existe independentemente da sua acção. É sabido que o homem depende do meio no qual vive, mas não é só o meio natural que o condiciona como também o ambiente cultural lhe é imposto de um modo inevitável. Assim que o homem nasce, além de necessitar de um meio geográfico mais ou menos favorável, confronta-se com uma época já com contornos históricos, com o peso de uma tradição longa e delineada, com uma linguagem estruturada, com costumes e crenças já definidos, uma sociedade com instituições, com uma vida económica e com uma forma de governo que denota os seus poderes. Enfim, o homem nasce naturalmente mas mal nasce já está corrompido. Mal a criança põe ‘os pés no mundo dos homens’ já entrou em degeneração: “Tudo está bem quando sai das mãos do autor das coisas, tudo se degenera entre as mãos do homem.”[2] Mas, ainda que a percepção imediata do fenómeno humano nos apresente ‘apenas um corpo’ situado no tempo e no espaço, ele é muito mais do que essa mera referência material e intelectual, ele tem ‘forças e desejos’. E é precisamente este o ponto de vista de Rousseau. Este filósofo vive nos meados do século XVIII e, dentro do seu contexto cultural, convive com figuras notáveis como Diderot, D’Alembert e Voltaire entre outros. No entanto, ao invés de compartilhar com o ideal iluminista destes pensadores que, para tornar as sociedades melhores, acreditavam na exaltação do progresso das ciências e das artes e da crença de que a difusão do saber iria pôr fim não só aos preconceitos como também à ignorância, Rousseau vê