FILME SEM CONTROLE
Uma crítica, por Maria Truccolo O filme brasileiro "Sem controle" expõe mais do que o fim da pena de morte no Brasil, cuja última condenação foi a de Manoel Motta Coqueiro. Por trás deste argumento principal, o filme revela outra questão, desta vez bastante atual. O movimento antimanicomial, pelo fim dos hospícios e o tratamento de psicóticos em hospitais-dia, abertos e até mesmo em casa, desenvolvido dos anos 70 para cá, é posto em xeque. Parece que a última parte do filme diz muito sobre o medo implícito da sociedade em relação aos diagnosticados como "loucos". Pacientes psiquiátricos, ex-alunos de teatro do protagonista Danilo Porto (Eduardo Mosccovis), preparam-lhe uma festa de despedida na casa dos pais de Aline, durante a qual e dão uma bebida com um psicotrópico dissolvido que o faz "apagar". Levam-no a uma fazenda, onde são orientados pela paciente psiquiátrica Aline (Milena Toscano) a encenar a peça que ensaiavam na casa de saúde, com Danilo como diretor. O desfecho da peça é a condenação de Manoel Motta Coqueiro, então representado por Danilo, ao enforcamento. O diretor de teatro perde o comando dos pacientes psiquiátricos, todos eles psicóticos - menos Aline. Os doentes passam a ser dirigidos por Aline, que pelo perfil apresentado tem estrutura borderline (nem neurótica nem psicótica): inteligência acima da média, baixa tolerância à frustração, dissimulação e tendência a alta exposição a risco de morte. Como se sabe, um psicótico não "encena", vive o real, e isto pode ser visto durante os ensaios dirigidos por Danilo, quando ainda dava aulas dentro da clínica psiquiátrica. Sob direção de Aline, os psicóticos passam a viver os papéis das personagens da peça "Motta Coqueiro", como se fossem reais. Aline, cuja internação psiquiátrica na casa de saúde permite-lhe sair e entrar quando quer, ali está porque flagrou um ex-namorado com outra e a esfaqueou. A paciente engana os enfermeiros, cuspindo os medicamentos indicados na terapia. Ou