Fil Sofo Da Vida
Às vezes sinto-me invisível, vocês passam por mim e disfarçam, de maneira que parece que não me vêem. não são capazes decifrar meu olhar, o que passa no meu psíquico, as minhas dores, medos e os meus sonhos. Para vocês eu não sou nada significante, não passo de um em milhões de moradores de rua. Todo dia acordo com os sons de buzinas e seus passos apressados, estressados, que não conseguem perceber a beleza da vida. Das poucas pessoas que viram o rosto para me ver, a maioria me ver com um olhar de piedade, mal percebem que sou mais feliz que elas. Nenhum dia é previsível, não sei o que vou comer, aonde vou dormir, você pode está se perguntando como eu posso dizer que sou feliz.
Ano passado, conheci Marcos, apelidado de “poeta da vida”, ele não podia me oferecer alimento, nem moradia, pois esses luxos nem ele tinha. Mas me ensinou a olhar a vida de outra maneira, e percebi que sou mais felizardo que muitas de vocês, aprendi a amar a vida e a superar o meu passado. Ele me deu atenção que eu nunca tinha recebido, nem dos meus pais, que me descartaram como se eu fosse um objeto inútil. Ele me fez sentir importante, me amostrou que eu não estava à margem da sociedade, eu percebi que sou uma pessoa muito importante no quebra-cabeça da sociedade, apesar de vocês e seus preconceitos me rejeitarem.
Estou escrevendo esta carta, e espero que alguém leia, para demonstrar, que nos somos seres humanos complexos, igual a qualquer um, temos dia alegres, tristes, melancólicos, possuímos sonhos, aflições, desejo, medos, esperança de uma vida melhor. Vocês não estão em um patamar melhor do que o nosso, só espero que nos respeitem, dêem uma pausas nas suas rotinas, parem e conversem com alguns de nós, que perceberão que não somos uma pedra no caminho de vocês. Eu sei que é maluquice pedir que todos os moradores de rua do mundo inteiro tenham uma vida “normal”, então só peço que não nos discriminem, e nem nos olhe com piedade.