Como não lembrar aqui das teses sobre filosofia da história, de Walter Benjamin, autor que, vivendo o dilaceramento das identidades trazido pela complexificação da sociedade moderna e pela aceleração da temporalidade chamada progresso, vítima daquilo que Harvey chamará de compressão espaço-temporal, só ampliada em nosso tempo, vai pensar a tarefa do historiador como a de um garimpeiro de esperanças em meio a cinzas, como aquele responsável por produzir uma contramemória dos vencedores, como aquele comprometido a reacender as pequenas brasas que restassem do calor das refregas e das batalhas que se travaram no passado e que, recobertas de poeira, já não mais cintilavam, nem causavam perigo. Tu nos ensinas, Manoel, que a nossa condição é a ruína, que a nossa experiência é a da dispersão, de nós mesmos e das coisas, que não há mais unidade possível, nem totalidade que nos explique, por isso caberia aos historiadores do nosso tempo narrar esta experiência de escombros, que nasceu desde as duas grandes guerras mundiais e que só faz se ampliar, cada vez mais. A história, em nosso tempo, não pode ser discurso de construção, mas de desconstrução, discurso voltado para compreender o fragmentário que somos, as diferenças que nos constituem, o dessemelhante que nos habita. Por isso aprendo contigo, como aprendi com Marx, com Benjamim, com Nietzsche e com Foucault, que a história deve ser um discurso de contestação à memória dos poderosos, deve injetar rebeldia nas palavras, deve desconstruir seus monumentos a marteladas. Deve dar atenção a tudo “aquilo que a nossa civilização rejeita, pisa e mija em cima”, a tudo aquilo que a nossa civilização burguesa, utilitarista e pragmática, julga “que não nos leva a coisa alguma”, pois não se pode vender no mercado, como por exemplo “o coração verde dos pássaros”. Aprendo contigo a fazer uma história atenta “as coisas que não pretendem”, as “pessoas desimportantes”, “às coisas e aos homens jogado ao pó por muito tempo faz nascer em sua