Fichamento o olhar do viajante
CRISTOVÃO, F.(Coord.) O olhar do Viajante: dos navegadores aos exploradores. Lisboa: FCT, 2003
Artigo: O olhar da ciência, da ideologia e da utopia por Joaquim Cerqueira Gonçalves
1. Vida, transparência e labirintos do olhar.
O ser humano como ser viador e caminhante do mundo - e da alma. O movimento ora é inimigo do ver, pois para observar é preciso estar parado, paralisado.
O fenômeno do movimento por estar em andamento insinua a cisão superficial. Talvez a ideia de que estávamos em um planeta em movimento tenha sua origem neste pensamento. A mediação pela razão é ponto crucial e a visão fundamental. (verificar a Física de Aristóteles).
A expressão metamorfoseada: arrancar os olhos para ver, a visão que deveria gerar transparência, mas não a gera. Contradições, ambiguidades e paradoxos.
Esta necessidade de fechar os olhos para ver é um momento característico ocidental. As dúvidas sobre o conhecimento real, através dos sentidos, colocavam em xeques as sensações que sentimos. A idade moderna com seu epiteto de iluminada e o advento da técnica do aperfeiçoamento culminaram no que chamamos de sofisticadas. Como os sentidos podem nos enganar, nos iludir, olha-se para o espirito, para nós mesmos, para dentro, para atingir a tão almejada certeza – ou verdade.
Mas o que vemos quando olhamos, quer para nós quer para as coisas? Os percursos, lugares atravessados por estes viatores, que todos somos, são de fato os do universo ou os de nossa psique?
Substitui-se o olhar dos sentidos pela contemplação do espirito. Será o espirito mais do que um espelho da cultura, onde residem os produtos criados pelas frágeis mãos humanas? Tantas vezes confundida com inteligência, não será a alma, afinal, apenas memória, de modo que, quando contempladas, não é a verdade que se intui, mas apenas o erro disfarçado? De fato, “os mestres da suspeita” minaram a consistência das garantidas produções do espirito.
O prestígio do olhar consagrou-se com a leitura. Não