Fichamento: “A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”
Em sua essência, a obra de arte sempre foi reprodutível. O que os homens faziam sempre
podia ser imitado por outros homens. Essa imitação era praticada por discípulos, em seus
exercícios, pelos mestres, para a difusão das obras, e finalmente por terceiros, meramente
interessados no lucro. Em contraste, a reprodução técnica da obra de arte representa
um processo novo, que se vem desenvolvendo na história intermitentemente, através de
saltos separados por longos intervalos, mas com intensidade crescente. Com a xilogravura,
o desenho tornou-se pela primeira vez tecnicamente reprodutível, muito antes que a
imprensa prestasse o mesmo serviço para a palavra escrita. Conhecemos as gigantescas
transformações provocadas pela imprensa - a reprodução técnica da escrita.
A litografia permitiu às artes gráficas pela primeira vez colocar no mercado suas produções não
somente em massa, como já acontecia antes, mas também sob a forma de criações sempre
novas. Dessa forma, as artes gráficas adquiriram os meios de ilustrar a vida cotidiana.
Autenticidade
Mesmo na reprodução mais perfeita, um elemento está ausente: o aqui e agora da obra
de arte, sua existência única, no lugar em que ela se encontra. E nessa existência única, e
somente nela, que se desdobra à história da obra. Essa história compreende não apenas as
transformações que ela sofreu, com a passagem do tempo, em sua estrutura física, como
as relações de propriedade em que ela ingressou. Os vestígios das primeiras só podem ser
investigados por análises químicas ou físicas, irrealizáveis na reprodução; os vestígios das
segundas são o objeto de uma tradição, cuja reconstituição precisa partir do lugar em que se
achava o original.
O aqui e agora do original constitui o conteúdo da sua autenticidade, enquanto o autêntico
preserva toda a sua autoridade com relação à reprodução manual, em geral considerada uma