FICHAMENTO - TAMANHO E BELEZA NÃO SÃO TUDO
Tamanho e beleza não são tudo
Nas últimas décadas, o dinamarquês Jan Gehl, 75 anos, tem defendido a volta “a volta à escala humana”, que valoriza, por exemplo, detalhes nas fachadas. Para Gehl, o fascínio pelos prédios deixou as pessoas em segundo plano.
Por que o senhor é conta os edifícios monumentais?
Muitos de meus colegas criam projetos que mais parecem monumentos, de maneira que suas obras de concreto possam ser apreciadas a distância. A escala humana que eu defendo e aplico, é a que valoriza espaços menores, praças e fachadas com detalhes que as pessoas podem observar quando andam a pé.
Ser contra carros não é uma visão romântica demais?
Não se trata de não gostar e carros. O que eu defendo é a necessidade de pensar duas vezes antes de construir avenidas e viadutos que são um estímulo para que as pessoas usem mais e mais carros. Se erguermos praças e ciclovias boas e seguras, estaremos incentivando as pessoas a andar de bicicleta ou mesmo a pé. Cabe a nós, planejadores urbanos, das às pessoas os estímulo correto.
A arquitetura é capaz de moldar comportamentos?
Sem dúvida. Beja o caso de Nova York. Há três anos, a decisão de fechar a Times Square causou desconfiança. Mas as previsões mais pessimistas não se confirmaram. Hoje as pessoas passam mais tempo na região e se demoram justamente olhando as vitrines e comprando. As resistências sempre esmorecem quando os críticos percebem que sua cidade está mais acolhedora e agradável.
Mas o senhor acha que faz sentido dificultar a vida dos motoristas em cidades onde o transporte público é insuficiente?
Faz, desde que se invista paralelamente na melhora dos sistemas de ônibus, dos metrôs e das ciclovias. Por mais de meio século, tivemos gasolina barata – um incentivo para que os carros proliferassem. Mas, daqui pra frente, com o escasseamento do petróleo e a alta no preço do combustível, seremos forçados a mudar. A bicicleta mudou radicalmente a paisagem de cidades como Copenhague.