Fichamento: situação e formas do conto brasileiro contemporâneo – alfredo bosi
O conto cumpre a seu modo o destino da ficção contemporânea. Posto entre as exigências da narração realista os apelos da fantasia e as seduções do jogo verbal, ele tem assumido formas de surpreendente variedade. Ora é o quase-documento –folclórico, ora a quase-crônica da vida urbana, ora o quase-drama do cotidiano burguês, ora o quase-poema do imaginário às soltas, ora, enfim, grafia brilhante e preciosa votada às festas da linguagem.
O mesmo modo breve de ser compele o escritor a uma luta mais intensa com as técnicas de invenção, de sintaxe compositiva, de elocução: daí ficarem transpostas depressa as fronteiras que no conto separam o narrativo do lírico, o narrativo do dramático.
O conto tem exercido, ainda e sempre, o papel de lugar privilegiado em que se dizem situações exemplares vividas pelo homem contemporâneo.
Se o romance é um trançado de eventos, o conto tende a cumprir-se na visada intensa de uma situação, real ou imaginária, para a qual convergem signos de pessoas e de ações e um discurso que os amarra.
Cruzado por dentro o limiar do tema, é necessário conhecer o registro a que vai ser submetida a matéria: se realista documental, se realista crítico, se intimista na esfera do eu (memorialista), se experimental no nível do trabalho linguístico e, nesse caso, centrífugo e, à primeira vista, atemático.
O leitor é capaz de surpreender no ponto de vista o coração do momento inventivo. Em face da História, rio sem fim que vai arrastando tudo e todos no seu curso, o contista é um pescador de momentos singulares cheios de significação.
O contista explora no discurso ficcional uma hora intensa e aguda d percepção.
Os contos de Dalton Trevisan arrancam o calvário da vida conjugal, as humilhações do homem da rua, as obsessões do sexo desintegrado.
O melhor conto brasileiro tem procurado atingir também a dimensão metafísica e, num certo sentido, atemporal, das realidades.
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