fichamento As Imagens da Família
As Imagens da Família
Pareceria contestável falarmos de uma iconografia profana na Idade Média antes do século XIV, de tal forma o profano se distingue mal do sagrado. Contudo, entre as contribuições de origem profana a essa representação total do mundo, há um tema cuja freqüência e popularidade são significativas: o tema dos ofícios. Os arqueólogos nos informaram que os gauleses da época romana gostavam de representar em seus baixos-relevos funerários cenas de suas vidas de trabalhadores. Essa preferência pelos temas de ofícios não é encontrada em nenhuma outra parte. Os arqueólogos também ficaram impressionados com sua raridade, quando não com sua ausência, na iconografia funerária da África romana. O tema remonta, por conseguinte, a um passado remoto. Ele se manteve e até mesmo de desenvolveu durante a Idade Média. Ressalvando o anacronismo da expressão, poderíamos dizer, grosso modo, mas sem deformar a verdade, que a iconografia “profana” medieval consiste acima de tudo no tema dos ofícios. É importante que durante tanto tempo o ofício tenha parecido às pessoas ser a principal atividade da vida quotidiana, uma atividade cuja lembrança se associava ao culto funerário da época galo-romana e à concepção erudita do mundo da Idade Média, nos calendários das catedrais. Sem dúvida, isso parece perfeitamente natural aos historiadores modernos. Mas terão eles se indagado quantos hoje em dia prefeririam esquecer seu ofício e gostariam de deixar uma outra imagem de si mesmos? Em vão tentamos introduzir algum lirismo nos aspectos funcionais da vida contemporânea; o resultado é uma espécie de academicismo sem raízes populares. O homem de hoje não escolheria seu ofício, mesmo que gostasse dele, para propô-lo como tema a seus artistas, mesmo que estes últimos pudessem aceitá-lo. A importância dada ao ofício na iconografia medieval é um sinal do valor sentimental que as pessoas lhe atribuíam. Era como se