fichamento apologia da história
Eventos humanos
Eventos reais que têm o homem como ator. Mas a palavra homem não nos deve fazer entrar em transe. Nem a essência, nem os fins da história fazem questão da presença desse personagem; eles resultam da ótica escolhida; a história é o que é, não por causa de algum jeito especial ao homem, mas porque escolheu um certo modo de conhecimento. (p. 17)
O governo de Kerenski em 1917: evento humano; o fenômeno do duplo poder no período revolucionário: fenômeno que pode repetir-se. Se considerarmos o fato um evento, é porque julgamos que o próprio fato é interessante; e se nos interessamos por seu caráter repetitivo, ele é, apenas, um pretexto para a descoberta de uma lei. (p.17)
Evento e documento
A história é uma narrativa de eventos: todo o resto resulta disso. Já que é, de fato, uma narrativa, ela não faz reviver esses eventos, assim como tampouco o faz o romance; o vivido, tal como ressai das mãos do historiador, não é o dos atores; é uma narração o que permite evitar alguns falsos problemas. (p.18)
Especular sobre a defasagem que sempre separa a experiência vivida da reflexão sobre a narrativa levaria, simplesmente, à constatação de que Waterloo não foi a mesma coisa para um soldado e um marechal, que é possível narrar essa batalha na primeira ou na terceira pessoa, referir-se a ela como uma batalha, como uma vitória inglesa ou uma derrota francesa, que se pode deixar entrever, desde o início, o seu epílogo ou simular descobri-lo; essas especulações podem dar ocasião a experiências estéticas divertidas; para o historiador, são a descoberta e um limite. (p.18)
A história é, em essência, conhecimento por meio de documentos. Desse modo, a narração histórica situa-se para além de todos os documentos, já que nem um deles pode ser o próprio evento; ela não é um documento em fotomontagem e não mostra o passado ao vivo “como se estivesse Lá”; retomando a útil distinção de G.Genette ela é diegesis e não mimessis.