Ficha de leitura "A serpente, a maça e o holograma"
Ficha de leitura por Júlio Kaczam
A gula de Flusser: A devoração da natureza e a dissolução da vontade
1. Da fome à gula
“Confessa-se em dificuldade no estabelecimento do ponto em que termina a fome e começa a gula, mas assume sem hesitação a ideia da fome como “força que rege (...) a vida. (...) Cada espécie serve de alimento e devora outra”. E, na escala evolutiva, a gula surgiria então, de forma atenuada, já entre os primatas, mas de forma plena somente na espécie humana, na qual “assume porporções deveras titânicas”. Considera Flusser que não se trata de problema teórico diante do “estágio atual do desenvolvimento da tecnologia”. Não esclarece aqui as razões de considerar o fenômeno da gula relacionada com a tecnologia. Apenas enfatiza a existência de “um caráter de urgência prática imediata” do problema da gula enquanto dimensão cultural humana com a qual não sabemos ainda lidar.” (p. 14) “Prossegue Flusser, enumerando que não apenas a natureza é objeto da gula humana, mas também “a sociedade humana”, “a alma humana” e por fim, também “aquilo que [se] evacuou”. E assim, “[a gula], em vez de integrar o homem na engrenagem da vida, aliena o homem da vida. (...) ela nos conduz à destruição de nós mesmos”. (p. 15)
2. Da devoração à dissolução da matéria (e da vontade) “A devoração proposta pelos modernistas possui intenções de promover assepsia, quer eliminar o outro por meio do metabolismo, incorporando seletivamente sua herança vigorosa, descartando a cultura subserviente e colonialista tanto quanto aquela tacanha, de visão estreira e nacionalista. Assim, o comportamento a ser combatido é o colonialista, importador de modismos, mas também é o nacionalista, defensor folclórico de um conceito mesquinho de pátria. Ambos não conseguem metabolizar nem a novidade cultural que vem de outras culturas, nem a herança histórica da própria cultura.” (p. 17) “A metáfora de devoração antropofágica deu a nota dominante nos