Fiasco Liga Nacoes
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Diplomacia e fiasco. Repensando a participação brasileira na Liga das Nações: elementos para uma nova interpretação
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NORMA BREDA DOS SANTOS*
No prefácio à primeira edição de Vinte anos de crise, publicada em 1939, pouco após a invasão da Polônia por Hitler, E. H. Carr escreve que a “próxima conferência de paz, se não quiser repetir o fiasco da última, terá de se preocupar com assuntos mais fundamentais do que o traçado de fronteiras”2. Por que “fiasco”? Porque, para Carr, a Primeira Guerra Mundial havia sido a expressão da exaustão da ordem liberal “ econômica e política “ do século XIX e o Tratado de Versalhes, produto da ilusão de que a continuidade daquela ordem seria possível. Princípios como o da autodeterminação nacional, do comércio livre e da segurança coletiva, tidos como supostamente absolutos, baseavam-se na idéia liberal de uma natural harmonia de interesses3. A diplomacia do entreguerras, incluindo-se aí notoriamente a que se passava no âmbito da Liga das Nações, viveria ainda “vinte anos de crise” para dar lugar a um novo século.
Notava ainda Carr que, com a guerra que se iniciava em 1939, tornava-se
“quase inevitável e fácil atribuir a catástrofe às ambições e à arrogância de um punhado de homens, sem buscar uma explicação”. No entanto, ponderava, “mesmo quando a guerra já devasta, pode haver mais importância prática numa tentativa de analisar as causas subjacentes e significativas do desastre, do que razões imediatas e pessoais”4.
A busca de “causas subjacentes e significativas” deve também ser tentada para entender um outro fiasco, também geralmente visto na perspectiva da ação de um “punhado de homens”: o veto brasileiro à adesão alemã à Liga das Nações, em
1926, e a posterior retirada brasileira da organização internacional.
O conjunto dos estudos brasileiros sobre a participação do Brasil na Liga das
Nações é praticamente unânime ao avaliá-la como um fiasco,