Ferrarini Capitalismo E Colonialismo
1 CAPITALISMO E COLONIALISMO: A DUPLA FACE DA QUESTÃO SOCIAL
CONTEMPORÂNEA
É necessário um diagnóstico forte para que se tenha uma intervenção forte (BOAVENTURA DE SOUSA SANTOS).
A humanidade tem uma longa história que passa por diferentes modos de produção e organização econômica, cultural e social. O olhar sobre a história possibilita a identificação de traços comuns e de descontinuidades ou rupturas que alteram categorias essenciais à análise sociológica, tais como: modos de produção da vida material e simbólica, poder, regulação social e emancipação, entre outras. Fenômenos como a desigualdade, pobreza e exclusão social sempre existiram, ainda que sob diferentes formas e significados, o que não justifica a banalização do caráter emergencial de enfrentamento desses fenômenos.
A análise crítica acerca da pobreza - assim como das formas de combatê-la exige o desvendamento de sua gênese estrutural, a qual encontra-se profundamente ligada à questão social em sua trajetória histórica. Mais que pano de fundo para esta análise, a questão social é o próprio objeto da pesquisa, visto ser definida como a desigualdade social em suas múltiplas manifestações (pobreza, violência, exclusão, etc.) e as formas particulares de resistência material e simbólica acionadas por indivíduos e grupos. Neste capítulo analisaremos a questão social em perspectiva complexa. Para tanto, recorre a dois recursos analíticos. O primeiro refere-se à concepção da questão social em dupla dimensão, societal e epistemológica. A ênfase na dimensão epistemológica deve-se ao fato de ter sido menos contemplada – ou até negada - pela teoria crítica moderna. Santos (2000 e 2002) afirma que a usual negação da relação entre conhecimento e ação tem sido uma das causas de fraturas e de cegueiras presentes
nos projetos emancipatórios. O autor considera que a forma pela qual se conhece e se