de que os primeiros anos da sua vida permanecerão para sempre presentes até ao fim de Novembro de 1935; a saudade de um passado glorioso que é, no momento da enunciação do discurso poético, irremediavelmente pretérito perpassa por grande parte da sua obra. É mesmo a essa época da sua vida que atribui a origem, ou o aparecimento, dos amigos imaginários, que se desenvolverão mais tarde em heterónimos e que constituem uma das maiores conquistas poéticas da literatura portuguesa. Porém, a ideia de um passado de ouro que não volta não é exclusivamente aliável à infância. A imensa sensibilidade de Pessoa permitiu-lhe dispor de uma versatilidade temática que, mesmo sujeita a um pressuposto fixo, a saudade por algo melhor que o momento presente, se desenvolveu poeticamente por meio de variadas situações, momentos, episódios, sensações. Como é óbvio, pela publicação da Mensagem, independentemente das verdadeiras razões que terão levado o autor a publicar aquele livro (BLANCO, 2006), não é apenas pela memória da infância que Pessoa dá corpo poético à sua saudade. Antes de mais, deve-se referir que a saudade, na sua obra, não remete apenas, como tradicionalmente, para um tempo anterior, uma aurea aetas, um Éden para sempre cerrado pela espada de um anjo. É um sentimento que também se lança para o futuro, para qualquer momento que não seja o corrente, pois é este que de facto dói, dilacera, esmaga com a nulidade que preenche a experiência de viver. É notável como Fernando Pessoa consegue poetizar esta ginástica mental de se extemporizar, isto é, de se situar fora de qualquer continuum temporal e visualizar, tão claramente como o passado, o futuro. Não queremos abrir aqui espaço à reflexão do estudo que Pessoa levou a cabo durante a sua vida sobre o ocultismo; o futuro que Pessoa almeja é, como já está referido, do mesmo âmbito que o seu passado: momentos temporais, qualquer um deles preferível ao momento actual, como explica Eduardo Lourenço (LOURENÇO, 2004: 111-125). Porém, o