Fernando pessoa

2426 palavras 10 páginas
Eduardo Lourenço encontra em Fernando Pessoa uma das ‘referências-chaves da Cultura contemporânea’, fato que se pode explicar por ter sido Pessoa o precursor da modernidade. Quem, ao se entregar aos seus outros, para lançar sobre o mundo distintas perspectivas, alertou a sociedade sobre o vazio arrebatador que estava diante dos olhos, porém encoberto pelo véu da ilusão. Ao abalar a verdade que sustenta a humanidade, o devir se torna mistério, agonia e dor. Pode-se negá-lo, viver alheio a ele, ou enfrentá-lo, ainda assim o homem não poderá possuir um conhecimento tão abarcador que aplaque os seus medos, pois isso é característica de um Deus. E os ideais cristãos estavam se rompendo, não havia mais espaço para ‘um Deus’. O homem tinha que encontrar outra maneira de atribuir sentido a sua existência. Percebendo que existe uma ‘verdade que nos é vedada’, Fernando Pessoa inventou-se em muitos para fingir que se pode tentar compreender o mundo, e assim, suportar o vazio da existência. A partir de uma escrita comprometida com a pura sensação e a objetividade da realidade, se cria o primeiro heterônimo: Alberto Caeiro, o Mestre do sensacionismo. Caeiro é o poeta ‘imaginariamente feliz’, pois só o que se pode ver, sentir ou escutar, faz parte do domínio do real. Pensar sobre a realidade é refletir sobre as coisas, portanto negar a sua existência. A poesia que deu origem a Ricardo Reis retoma a ideia do conhecimento clássico. O olhar de Reis é distante e não comprometido, pois busca um modo tênue de estar no mundo, uma inquietude não ‘indagativa’ que provém de conhecimentos prévios. Não recorre a novas sensações, pois isso significaria arriscar-se e colocar-se diante do novo mundo. Álvaro de Campos surge com a poesia que se expõe ao mundo moderno, é o lado oposto a Reis. Campos é aquele que caminha pelas cidades, vê tudo e todos e ao mesmo tempo não se fixa a lugar nenhum. Encontra a angústia na velocidade da vida moderna, do homem que

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