Fernando Pessoa ortónimo
A poesia pessoana tem como base o fingimento poético. O poeta é um fingidor mas este finge não mentindo mas sim transformando, intelectualizando tudo o que sente. No poema “Autopsicografia”, Pessoa descreve três tipos de dor: a dor real, a dor fingida e a dor lida. A dor real é a que o poeta realmente sente que é transformada e intelectualizada passando assim a ser uma dor fingida. Por fim a dor é reinterpretada pelos leitores tornando-se numa dor lida. Como a primeira dor que surge é a sentida, o ponto de partida são as emoções que vão ser transformadas pelo pensamento. Em Pessoa, a dicotomia entre o pensar e o sentir está bastante presente. Existe uma sobrevalorização do pensar em relação ao sentir, do pensamento em relação às emoções e é esta sobrevalorização que vai causar no eu poético a dor de pensar. A constante intelectualização causa dor de pensar. O eu poético é infeliz porque pensa e racionaliza. Ao dar mais importância ao pensamento o poeta sofre, sente-se incompleto. O facto de ser um ser consciente e racional faz com que seja infeliz. Isto está bem presente nos poemas “Não sei ser triste a valer”, “Gato que brincas na rua” e “Ela canta, pobre ceifeira. No poema “Gato que brincas na rua” o eu tem inveja do gato por este simplesmente existir, por este ser irracional e apenas sentir, por ser inconsciente e por isso ser feliz apenas por existir. “És feliz porque és assim,/Todo o nada que és é teu.”. Tal como tem inveja do gato, o eu tem também inveja das crianças pois estas são inconscientes. E nisto o eu irá recordar o passado e sentir-se-á nostálgico. Irá sentir saudade de ser simples e inconsciente, de não ter problemas e por isso sente saudade de ser feliz tal como as crianças. O poema mais importante é “Ó sino da minha aldeia”, onde Pessoa recorda o sítio onde nasceu e a época em que foi feliz