Fernando pessoa ortónimo - temas
Nostalgia de infância
-----A nostalgia de infância é um dos temas fundamentais da obra de Fernando Pessoa ortónimo, partilhado pelo heterónimo Álvaro de Campos.
Para Pessoa, a infância é o passado irremediavelmente perdido, o tempo longínquo em que era feliz sem saber que o era, o tempo em que ainda não tinha iniciado a procura de si mesmo e, por isso, ainda não se tinha fragmentado ("Eu era feliz? Não sei. / Fui-o outrora agora.").
-----Em muitos poemas, o poeta exprime a memória dessa infância suscitada por um qualquer estímulo – um som, uma imagem, uma palavra - para concluir amargamente que o rosto da criança que foi não se ajusta ao seu rosto presente, não há coincidência entre o eu-outrora e o eu-agora. Em Pessoa a passagem da infância à idade adulta não é um processo evolutivo e tranquilamente natural, é um processo de ruptura, de corte, de morte. "A criança que fui vive ou morreu?" interroga-se lancinantemente o poeta, exprimindo uma estupefação perturbante de se sentir habitado por outro, diferente da criança que foi.
-----Desta forma, o passado e o presente opõem-se em Pessoa, não se complementam. O passado é a infância, alegria, felicidade inconsciente; o presente é nostalgia, ânsia, desconhecimento de si mesmo e do futuro.
O Eu Fragmentado
Não sei quem sou, que alma tenho.
Quando falo com sinceridade não sei com que sinceridade falo. Sou variamente outro do que um eu que não sei se existe.
Sinto crenças que não tenho. Enlevam-me ânsias que repudio. A minha perpétua atenção sobre mim perpetuamente me aponta traições de alma a um carácter que talvez eu não tenha, nem ela julga que eu tenho.
Sinto-me múltiplo.
Sou como um quarto com inúmeros espelhos fantásticos que torcem para reflexões falsas uma única anterior realidade que não está em nenhuma e está em todas.
Como o panteísta se sente onda e astro e flor, eu sinto-me vários seres. Sinto-me viver vidas alheias, em mim, incompletamente,