Fernando Pessoa Heterónimos
“Fernando Pessoa foi um ser-em-poesía”, alguém que criou e viveu “quase todas as possibilidades de Ser e de Estar-no-mundo”, através dos diversos poemas e culturas que exprimiu. O seu temperamento levou-o a criar dramas em atos e ação, com personalidades diferentes. Fernando Pessoa, ao sentir-se variamente outro, ao “outrar-se”, cria amigos que exprimem estados de alma e consciência distintos dos seus e, por vezes, opostos. O “eu” do artista despersonaliza-se, para melhor exprimir a apreensão da Vida, do Ser e do Mundo. Os heterónimos de Frenando Pessoa vem da necessidade de descobrir a sua consciência e a personalidade. O que o levou à conceção de figuras “estremamente humanas” que eram “gente”. Na carta que escreveu em 1935 a Adolfo Casais Monteiro diz: “hoje já não tenho personalidade: quanto em mim haja de humano eu o dividi entre os autores vários de cuja obra tenho sido executos. Sou hoje o ponto de reunião de uma pequena humanidade só minha”. Trata-se de um “temperamento dramático elevado ao máximo”, escrevendo, em vez de dramas em atos e ação, “dramas em alma”. Pode dizer-se que a “pequena humanidade” na prespectiva do poeta é como um palco onde desfilam pelo menos quatro personagens diferentes: Álvaro de Campos, Alberto Caeeiro, Ricardo Reis e Frenando Pessoa. A heteronímia seria, como se diz, o termo último de um processo de personalização inerente à propria criação poética. Os heterónimos “são como personagens à procura do autor. São personagens de um drama. Cada um é diferente dos outros e fala e procede tal qual é”.