Fenomenologia do brasil
O homem é um ente essencialmente perdido e, quando se dá conta, procura encontrar-se.
Esta sentença pode ser lida em vários níveis, por exemplo, no nível religioso ou no nível de um bandeirante no sertão, e seu sentido é sempre este: a decisão de tomar caminho (ou abrir caminho) depende sempre de um mapa da situação na qual o homem se encontra.
Isto significa que toda decisão depende não apenas da posição das coisas, mas também da imagem que fazemos da posição das coisas (provavelmente isto tem muito a ver com o problema da liberdade). Pois essa imagem, seja ela mais ou menos fiel, depende sempre de um ponto de vista, a partir do qual foi projetada, e este ponto de vista não pode, ele próprio, fazer parte da situação que enfoca.
O fato de o homem assumir pontos de vista não diz no fundo outra coisa a não ser que o homem procura encontrar-se. Poderíamos dizer que a capacidade para a visão distanciada é prova da perdição humana, porque não teria sentido afirmar de um ente incapaz de ver sua situação que está perdido. No entanto, devemos ser cautelosos ao tentar estabelecer um nexo causal entre a capacidade para a superação e a perdição humana. Estaremos perdidos por podermos nos distanciar de nos mesmos, ou podemos sair de nós mesmos por estarmos perdidos? Provavelmente trata-se de pergunta sem sentido. É melhor constatarmos simplesmente que a capacidade para a imaginação (inclusive para a imaginação de si mesmo) caracteriza o homem tanto quanto a sensação de: (a) estar perdido em não importa que situação; (b) e dever portanto orientar-se.
Devemos constatar também que a consciência da desorientação e da necessidade de orientar-se não esta desperta sempre, nem em todos. Os assim chamados "bem integrados"
(ou "quadrados") não se sentem perdidos, e neste sentido cada um de nós é "quadrado" na maioria das vezes. A sensação da desorientação, a angústia do beco sem saída, toma conta de nós apenas por momentos, e