Felipe IV E O Papa Clemente V
1304-1320: invocações de diabos, pactos satânicos, assassinatos mágicos. Na França, de Paris a Avignon, instalamse processos, armam-se cadafalsos, acendem-se fogueiras. Vinte processos são instruídos envolvendo magia e invocação diabólica contra apenas dois no restante da Europa ocidental. O mais significativo, no entanto, é o fato de que, em dezoito dos casos, estão envolvidas as elites dirigentes em conspirações ou assassinatos com o auxílio de práticas mágicas e intervenção diabólica. Tal concentração, no século XIII, constitui uma singularidade histórica da França dos últimos Capetos, existindo apenas um processo semelhante, contudo acontecido em um momento anterior. Realizado fora da alçada francesa o processo de
Walter Langton, iniciado em 1301 na Inglaterra, termina por sua absolvição (1). Acrescente-se que no referido processo os rituais mágicos estão subentendidos, não aparecendo formalmente nas peças acusatórias. Ainda estamos longe dos sabats
CARLOS ROBERTO FIGUEIREDO NOGUEIRA
magia e política
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do século seguinte, da existência de uma seita demoníaca, destinada a impedir, ou, no mínimo, pôr obstáculos à conclusão da obra do Redentor: aqui a componente política é visível e dominante. Adversários são eliminados, mortes ou males súbitos são explicados através da ação de encantamentos, maldições e envenenamentos mágicos.
1 “Processo do bispo Walter
Langton, bispo de Coventry e
Lichfield e antigo tesoureiro de
Eduardo I, por Invocação de demônios”. Ver Richard
Kieckhefer, European Witch
Trials. Their Foundations in Popular and Learned Culture,
Berkeley,
1300-1500 ,
University of California Press,
1976, pp. 108-10.
2 Henry Charles Lea, A History of the 1nquisition of the Middle
Ages (1887), New York,
1961, III, p. 457.
Essa verdadeira onda de conspiração mágica parece ter início em 1303, quando Bonifácio VIII é deposto em uma assembléia no Louvre por Felipe, o Belo, acusado por seus oficiais de invocação de demônios, consultas