Fedor
Mas não se trata disso. O subsolo é um local “espiritual”, de isolamento, de aflição, de amargura, um local não real que podemos imaginar como um porão escuro e com goteiras. Mas somente ao final do livro que percebemos isso. Quanto ao personagem, me veio à mente uma pessoa com uma barba longa e grisalha, um corpo fino como que mal alimentado e as roupas rasgadas. Mas não há nenhuma descrição física deste personagem. Este é um retrato mental que faço de uma personalidade. Um sujeito desiludido com o mundo. Que lembra aquele ser vil, torpe, do poema de Fernando Pessoa.
A leitura da primeira parte da obra, “O subsolo”, mostra diversos conflitos éticos e morais que o personagem enfrenta, lembrando de sua vida, arrependido de muitos de seus atos, ao mesmo tempo que preocupando-se em justificá-los de antemão (que serão relatados apenas na segunda parte do livro). Justifica, também, a sua própria vida no subsolo. Escrito em meados do século XIX, sua obra parece antecipar em suas reflexões à Freud e muitos outros filósofos e pensadores em pontos do texto. O subsolo é um local em nossa mente que escondemos de nós mesmos e que preferimos não chegar perto. Mas, como em Freud, um local que determina muitos de nossos atos (numa visão não determinística da determinação).
Na segunda parte, “A propósito da neve molhada”, o narrador personagem relata uma passagem de sua vida. É como se fosse um conto. O personagem então relata como estes conflitos internos, expostos na primeira parte, tem implicação na sua vida cotidiana, ou mesmo como eles são o resultado de suas ações (algo impossível de determinar).
Nesta parte o