fazendo da janela uma arma de tortura
Observo o mendigo na esquina à frente da minha casa e penso em que momento de sua vida ele errou? Porque foi parar nas ruas? Deitado em uma calçada? Coberto por alguns jornais? Comendo o restante de um sanduíche velho que alguém não quis mais? Onde esse homem errou? Será que um dia ele já foi como eu? Apenas um jovem curioso e persistente que abandonou sua família na roça, para tentar a sorte na cidade grande? Trabalhar, estudar, aprender, se formar, crescer e poder mudar uma realidade? E então aonde ele errou? O que eu devo fazer para não cometer os mesmos erros? Por isso que eu gosto de observar: às vezes o erro do outro se torna um espelho para nossa vitória.
Não apenas falando do mendigo ao querer mostrar como a cidade é solitária, mas também olhando a mim mesmo, parado agora na frente dessa janela, vendo as luzes nas casas do vizinho, ouvindo o som da TV lá do outro lado, à um muro de distancia. Ouvindo as crianças brincando no terreiro pequenino, muito diferente da roça onde eu cresci, onde terra e liberdade eram infinitas. As crianças da cidade crescem como prisioneiros do medo, cercados por muros altos, cravejados de balas e adornado com cacos de vidro. Olho pela janela, e mesmo me deparando com essa realidade tão contrastante com a minha, sinto saudade. Mesmo cercado por muros altos, posso ouvir e sentir a felicidade emanando pelas janelinhas iluminadas dos prédios. E eu aqui, tão só, tão longe da minha verdadeira