Fausto
Thamy Kurosawa
Crítica
Fausto (Rússia/Alemanha, 2011) – Alexander Sokurov
Fausto de Alexander Sokurov é livremente inspirado no Fausto de Goethe. Assim, o personagem do filme não vende sua alma ao diabo em troca de sabedoria, mas primeiramente em troca de dinheiro, e depois, luxúria. Interpretado por Johannes Zeiler, o personagem é um cientista, um professor, um homem que busca as verdades sobre os humanos penetrando suas entranhas, como mostra a bela metáfora da cena inicial. Mas essa busca não traz retornos financeiros, é preciso se alimentar, se sustentar. E para isso, Fausto precisa de dinheiro.
Isso o leva à Casa de Penhores, onde o penhor é o próprio diabo. A representação do diabo como um agiota traz a história de Fausto para um contexto atual, fazendo do filme uma crítica à sociedade contemporânea, onde tudo, até mesmo valores morais viraram mercadoria. Mesmo tendo o anel que queria penhorar recusado, Fausto é atraído por uma andança pela cidade com o agiota. Andança essa em que Fausto se mete em becos, lugares escuros, apertados e claustrofóbicos, mas que não o afastam do diabo. Algo além de dinheiro o atrai àquele homem que ainda não mostra sua verdadeira face, apesar de mostrar sua mesquinhez e maldade.
Mas em uma sociedade permeada pelo mal, é difícil reconhecer sua própria encarnação. Como diz Wagner, pupilo de Fausto, ‘’O bem não existe, mas o mal, sim, existe.’’. Todos os personagens do filme são mesquinhos, egoístas. Até o próprio diabo diz ele sim ser verdadeiramente puro. Apenas um personagem não apresenta maldade, Marguerite, a jovem por quem Fausto se apaixona e que se torna a moeda de troca de sua alma. Marguerite é uma figura pura e clara em meio a tanta escuridão. Mas assim como todos, acaba submergindo naquela podridão.
O filme possui uma atmosfera de decadência, de caos, permeado pelos tons de cinza. As distorções das imagens exprimem a verdadeira essência daquela sociedade resumida na fala da estranha senhora que