Fatima dias
ENCONTROS MARCADOS E “MOVIMENTOS SIMULADOS”
Profa. Dra. Fátima Cristina Dias Rocha (Uerj)
A carta tem algo a ver com a solidão no exílio. Silviano Santiago.
O leitor de Clarice Lispector esperou algum tempo para ter acesso às cartas endereçadas pela escritora __ que viveu 15 anos fora do Brasil __ a familiares e amigos. Enquanto aguardava, pôde satisfazer __ e aumentar __ sua curiosidade com fragmentos dessa correspondência publicados em alguns livros sobre Clarice, como o de Olga Borelli (1981) ou o de Nádia Battella Gotlib (1995). Em 2001, as Cartas perto do coração permitiram ao leitor vivenciar a experiência única de “penetrar na intimidade” de Clarice Lispector e Fernando Sabino, que trocaram as primeiras cartas quando eram jovens autores em início de carreira. Mantida, com interrupções, de 1946 a 1969, a correspondência começa com Clarice em Berna (Suíça), dirigindo-se ao escritor mineiro no Rio de Janeiro, mas Fernando, ainda em 1946, vai se mudar para Nova York. Em 1952, será a vez de Clarice Lispector fixar residência em Washington, enquanto Fernando estará de volta ao Rio, passando o correio a circular entre as duas capitais. Se, como afirmou Evando Nascimento (2001, p. 8), a publicação das Cartas perto do coração foi “um dos maiores acontecimentos literários do ano”, em 2002 o leitor ganhou, com o livro Correspondências/Clarice Lispector, mais uma oportunidade de percorrer a paisagem epistolar de Clarice Lispector. O volume, organizado por Teresa Montero, reunia parte da correspondência de Clarice com escritores, artistas, intelectuais e familiares, num total de 129 cartas, no período de 1941 a 1976: de um lado, a sua correspondência pessoal ativa __ 70 cartas; de outro, a correspondência pessoal passiva __ 59 cartas. Lidos em conjunto, os dois volumes fazem lembrar a imagem que Silviano Santiago identifica na correspondência entre Carlos Drummond e Mário de Andrade: