Faoro, raymundo. a aventura liberal numa ordem patrimonialista. revista usp. são paulo, n° 17, 1993, p. 14-29.
• Houve um tempo em que o feudalismo era trazido à tona para encontrar o passado brasileiro. “No campeador riograndense e na casa grande do nordeste, haveria embora diluído pelo tempo, um sopro feudal” (p. 14). Havia uma contradição, porém, personificada na relação entre senhores e escravos, a qual era edificada pela exploração da terra.
• Os senhores feudais aqui se converteram em comerciantes e industriais gerando uma classe média que era “capaz de sustentar os valores políticos e econômicos do liberalismo europeu, desde os primeiros movimentos da emancipação nacional, com o liberalismo político, no fim do século XVIII, até no último quartel do século XIX, com o triunfo do liberalismo econômico” (p. 14-15).
• Essa visão histórica estava baseada no fato de que os senhores feudais se apropriavam do excedente da sociedade feudal. “A conseqüência: na sociedade civil (...) estava, em primeira e em última instância a base da ordem política e social” (p. 15).
• Mas nisso está omitido o fat de que entre nós há uma camada governante democrática e que a sociedade civil é débil, tolhida pelo Estado. Não são as classes que edificam a sociedade com demandas políticas, sociais, econômicas, mas, sim, o antagonismo entre os que governam e os que são governados na forma de uma política autocrática. O Estado é o detentor das terras e o regulador da economia: “Este tipo social, alternativa do liberalismo é o patrimonialismo” (p. 15).
• “No patrimonialismo a racionalidade obedece, em lugar de fins, a valores: valores éticos, valores religiosos e principalmente políticos” (p. 15). Entretanto, essa prática não condiz com a ordem racional que exclui ou limita o poder público.
• Esta incompatibilidade entre dominação patrimonial e, por exemplo, a garantia constitucional contra o arbítrio, faz com que o indivíduo se torne dependente de um poder que lhe