Falar e comunicar
Marcos Bagno
Falar é comunicar quem somos, de onde viemos, a que comunidade pertencemos
Existe na nossa cultura escolar, no que diz respeito ao ensino de língua, uma ideia muito entranhada e que precisa ser veementemente exposta e combatida. É a noção de que “o que importa é comunicar”, de que, “se a mensagem foi transmitida, tudo bem”, e coisas assim. Quero deixar bem claro aqui, logo de início, que não, não e não – essa é uma visão muito pobre e mesquinha do que é a língua e dos papéis sociais que ela exerce. Repetir essas ideias é algo extremamente prejudicial para uma boa educação linguística.
Essa ideia é uma deturpação violenta de teorias linguísticas sofisticadas, que, lidas pela metade ou só na superfície (quando são lidas!), se transformam em conceitos tomados como “verdades científicas” pelos que não se empenham em estudar mais a fundo. E, para piorar, serve de acusação contra os linguistas por parte de pessoas que pretendem, com isso, desqualificar o trabalho dos pesquisadores e tentar preservar a ferro e fogo uma concepção de “língua culta” obtusa, obscura e irreal.
A língua é muito mais do que um simples instrumento de comunicação. Ela é palco de conflitos sociais, de disputas políticas, de propaganda ideológica, de manipulação de consciências, entre muitas e muitas outras coisas. A língua nos leva a votar nessa ou naquela pessoa, a comprar tal ou qual produto, a admitir que determinado evento ocorreu de determinada maneira e não de outra, a aderir a uma ideia, e por aí vai, e vai longe… No mercado financeiro, por exemplo, tudo se faz por meio das palavras. Os títulos negociados na Bolsa de Valores não têm existência concreta, são mera abstração, dependem exclusivamente do que se diz ou do que se deixa de dizer: basta lançar um boato sobre uma empresa, dizendo que ela está para falir, e o valor das ações despenca. O que alguns chamam de “invasão” (de terras, por exemplo) outros chamam de “ocupação” (de áreas improdutivas). Onde