faculdade
Os três elementos que são quatro Os mitos que acabamos de examinar são transmitidos e perpetuados em nossa sociedade, cada um deles em grau maior ou menor, por um mecanismo que podemos chamar de círculo vicioso do preconceito linguístico. Esse círculo vicioso se forma pela união de três elementos que, sem desrespeitar meus amigos teólogos, costumo denominar “Santíssima Trindade” do preconceito linguístico. Esses três elementos são a gramática tradicional, os métodos tradicionais de ensino e os livros didáticos: Como é que se forma esse círculo? Assim: a gramática tradicional inspira a prática de ensino, que por sua vez provoca o surgimento da indústria do livro didático, cujos autores — fechando o círculo — recorrem à gramática tradicional como fonte de concepções e teorias sobre a língua. Á gramática tradicional, em sua vertente normativo- prescritivista, continua firme e forte, como é fácil verificar nos compêndios gramaticais mais recentes. As práticas de ensino variam muito de região para região, de escola para escola, e até de professor para professor, de acordo com as concepções pedagógicas adotadas. A tendência atual, mencionada no início deste livro, à crítica dos preconceitos e ao exercício da tolerância tem tornado o ambiente escolar bastante mais respirável e democrático do que, por exemplo, na época em que estudei, em plena ditadura militar. Como já vimos, a mais alta instância educacional do país, o Ministério da Educação, tem feito esforços louváveis para provocar uma reflexão sobre os temas relativos à ética e à cidadania plena do indivíduo, para estimular uma postura menos dogmática e mais flexível, por parte, pelo menos, das escolas públicas. Os já citados Parâmetros curriculares nacionais reconhecem que existe muito preconceito decorrente do valor atribuído às variedades padrão e ao estigma associado às variedades não padrão, consideradas inferiores ou erradas