Internet é uma tecnologia e Facebook um programa que a usa. As tecnologias surgem de determinadas necessidades, e os programas, de determinados propósito. Se realmente precisarmos de muitos amigos, se realmente for indispensável localizar a namorada de ontem ou o coleguinha de primário, avante? Facebook!
Quando sendo adolescente calcarroava as ruas de uma grande cidade e exercitava a concentração mental para assassinar o diretor de minha escola, costumava me deter nas vitrines das livrarias. Um livro que estava em todas chamava minha atenção: Como ganhar amigos e influir sobre as pessoas, de Dale Carnegie.
Apesar do exultante reclamo que o recomendava (milhões de cópias vendidas!), nunca o comprei. Bastou-me abri-lo e ler a primeira recomendação para constatar que a obra ia contra meus ideais: Não critique, nem condene, nem se queixe.
No ciberespaço há redes e teias de aranha. Internet é uma rede (de redes), e Facebook uma teia de aranha (de pessoas). Internet vincula, Facebook captura. Ambos sistemas ligam. Só que Internet foi desenhada com fins públicos e Facebook, bem como o livro de Carnegie, manipula o público com fins privados.
Que ideologia professavam os jovens da Universidade de Stanford que no final dos sessenta exploravam as potencialidades da rede? Digamos que o proverbial pragmatismo da elitista democracia ianque os convidou a responderem a uma pontual petição do Pentágono: criar um sistema de comunicação descentralizado, capaz de resistir um ataque nuclear.
Como o projeto não mencionava que o sistema evitasse a censura (ou que se inspirasse na igualdade de direitos entre as fontes de informação), o Estado não se importou com que os pesquisadores apoiassem a guerra do Vietnã ou fossem a recitais para cantar We shall overcome a Ronald Reagan, governador de Califórnia. Licenças do american way, que não voltarão.