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“Prazeres, sócios meus e meus tiranos!
Esta alma, que sedenta em si não coube, no abismo vos sumiu, dos desenganos.
Deus, Óh Deus! Quando a morte a luz me roube, ganhe um momento, o que perderam anos, saiba morrer, o que viver não soube.”
(José Maria Bocage)
Data de 1874, o primeiro caso, de que se tem relato, de maus-tratos físicos contra uma criança, ocorrido nos EUA. Uma menina, Mary Ellen, fora barbaramente espancada por sua madrasta. O que fazer? A quem recorrer? Diante da total falta de outras opções, ela foi encaminhada à Sociedade de Proteção de
Animais. É incrível, mas é verdade! Os bichos tinham mais recursos de proteção do que as crianças.
Este acontecimento, bastante explorado pela imprensa, provocou a criação da Sociedade de Prevenção da Crueldade contra Crianças, em Nova Iorque, no ano seguinte.
Até 1946, quando Caffey descreveu seis casos de crianças com fraturas múltiplas e hematomas subdurais, inexistiam relatos, na literatura médica, de abuso infantil. O autor concluiu que as fraturas indicavam uma origem traumática, por causas obscuras. Em 1953, Silverman relatou situações semelhantes. Em
1955, Woolley e Evans levantaram a possibilidade de os pais serem os causadores desses tipos de lesões. Em 1962, Kempe publicou a “Síndrome da Criança
Espancada”. O impacto dessa publicação foi de tal ordem que, entre 1963 e
1968, todos os estados americanos aprovaram leis que obrigam os profissionais de saúde a reportarem casos suspeitos às autoridades.
Dados levantados na década de sessenta apontavam as mães, que tinham contato mais estreito com os filhos, como as maiores responsáveis pelo abuso infantil. Na década de setenta registrou-se um aumento no número de homens envolvidos, com menção especial aos padrastos, namorados das mães e empregados domésticos que cuidam de crianças. Os pais naturais também estavam envolvidos, em muitos casos.
Segundo Helfer e alguns estudiosos, 30% a 60% dos pais que abusam dos